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Conquistas de Jó Bichara
Sobre mim
Seria muita pretensão minha querer responder a esta pergunta ancestral. Não sei quem sou e, para falar a verdade, não quero muito saber. Não vejo, simplesmente, como estas questões existenciais possam melhorar a minha vida. Então, para que se estressar, não é mesmo? Sou apenas aquilo que penso que sou - e olhe lá! Uns discordarão e então eu terei de retrucar que ninguém entende mais da minha vida do que eu mesmo. Mas não tenho muita certeza do argumento.
Pois comecemos com o meu nome: Jorge Bichara Netto. O sobrenome é árabe. Com o indefectível Netto para incomodar. Para alguns, porém, eu não sou nada disso. Virei apenas o Jorge para a maioria dos que me conhecem. Para os amigos sou o Jó. O Bichara está reservado aos inimigos que acham que isto me deprecia. Já aí deu para perceber que sou três em um, como Deus. Não é muito à toa.
Minha vida de Jorge Bichara Netto começou oficialmente em 1982, mas eu acho que foi bem depois. Minha primeira lembrança é de 1990. Depois as coisas ficam confusas até 1992. A partir de então eu sou capaz de lembrar de quase tudo: morte dos Mamonas, fora Collor, etc. Só não sou capaz de me lembrar do rosto das pessoas. Portanto, se um dia você me encontrar na rua e eu não o cumprimentar, me desculpe. E saúde, caso você espirre.
Apesar de na minha carteira de trabalho constar apenas que trabalhei como auxiliar administrativo, na verdade já fui vendedor técnico, assessor legislativo, ator, secretário de cultura e professor. Talvez tenha sido alguma coisa no meio disso, mas não lembro porque estava dormindo.
Já quis ser o Rambo. Depois o vocalista do Sepultura. Antes disso eu quis ser o Senna, depois o Paulo Leminski. Já quis ser o Indiana Jones e o Jacques Cousteau. Já quis ser o meu professor de filosofia e já quis ser como o meu pai. Nada deu muito certo, confesso. Daí eu me toquei (o óbvio das obviedades!) que eu não tinha cacife para ser ninguém senão eu mesmo. Há quem diga que está dando certo.
Já tomei remédio para bronquite, diarréia, cólica, dor-de-cabeça, dor muscular, picada de abelha, dor-de-dente, dor-de-ouvido, frieira, gripe e até para uma pneumonia que eu não tive. Parei com isso. Não tomo mais remédio para nada e a minha vida vai bem, obrigado. Consulto médicos apenas para fazer exames de sangue regulares. Mas não sei por que estou dizendo isso. Ou talvez eu saiba. Preciso tomar remédio para esclerose.
Nasci em Vinhedo e cresci em Louveira. Joguei bola na rua, andei de carrinho de rolimã, mas eu gostava mesmo é de jogar bétis.
Sou um leitor apaixonado de bons livros. Meu ouvido para música creio que seja bom, mas eu me esforço para melhorar. Meu olhar para a pintura não é deste século nem do anterior. Gosto de ver televisão bem mais do que gostaria. Em cinema, não gosto de filmes iranianos. Em política, sou de centro-esquerda, mas já fui de esquerda e de direita. Sou heterossexual assumido, sem religião, não-fumante, bebedor de fim de semana, são-paulino e meu índice de massa corporal é 12, mas já foi menos.
Sou isto e sou mais, muito mais. Mas, hoje em dia, quem é que tem paciência para descobrir o outro, não é mesmo? Por isso eu posso ser divertido e interessante para alguns e arrogante e burro para outros. Quer saber? Eu sou mesmo é um homem que gosta de olhar as ondas batendo nas pedras, indo e vindo, tentando nos ensinar a eternidade que não nos é compreensível. E me traga mais uma água de coco, por favor.